Prémio José Afonso: uma tragicomédia grega
Com mais de dois anos de atraso, a Câmara Municipal da Amadora anunciou finalmente qual o disco distinguido com o Premio José Afonso referente à colheita discográfica de 2008. E o escolhido foi… “Chão”, da Mafalda Veiga. Confrontada com a notícia, a cantora mostrou-se surpreendida (vide artigo do Hardmúsica). O escrevente destas linhas comunga inteiramente de tal surpresa. Mais que surpresa: estupefacção e perplexidade. E porquê? Porque “Chão” está muito longe de ser um disco «cujos temas tenham como referência a Cultura e a História portuguesas, tal como a obra do autor de “Grândola, Vila Morena”» (nos termos do regulamento instituidor). Na verdade, o mais recente registo de Mafalda Veiga navega em águas muito diferentes – quase antagónicas – do legado estético de José Afonso e, se quisermos, da música popular portuguesa de raiz/inspiração tradicional, de que o autor de “Cantares do Andarilho” foi o grande percursor e impulsionador em Portugal. Mas mesmo que nos abstraíssemos deste requisito (coisa que não me parece razoável por deturpar o espírito e os objectivos de quem instituiu o Prémio), e quiséssemos considerar todos os discos de música portuguesa (fora da área erudita) lançados em 2008, ainda assim o CD “Chão” ficaria a perder para muitos outros álbuns. Continuar a ler
Álvaro José Ferreira