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Cesto

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LP/33rpm

Como se fora seu filho, 1983

ALINHAMENTO

01. Papuça
LETRA/MÚSICA José Afonso

02. Utopia*
LETRA/MÚSICA José Afonso

03. A nau de António Faria*
LETRA/MÚSICA José Afonso

04. Canção da paciência*
LETRA/MÚSICA José Afonso

05. O país vai de carrinho
LETRA/MÚSICA José Afonso

06. O canarinho
LETRA/MÚSICA José Afonso

07. Eu dizia
LETRA/MÚSICA José Afonso

08. Canção do medo*
LETRA/MÚSICA José Afonso

09. Verdade e mentira*
LETRA/MÚSICA José Afonso

10. Altos altentes
LETRA Popular
MÚSICA José Afonso

*Temas compostos para a peça «Fernão, Mentes?» do grupo de teatro «A Barraca», e que estreou a 18 de Novembro de 1981. Mais informações.

FICHA TÉCNICA

edição
Sassetti (TR 005)
gravação

estúdios Angel 1 e 2, Lisboa (entre Novembro de 1982 e Abril de 1983)
som
José Fortes
arranjos, direcção musical  e de produção
Júlio Pereira, José Mário Branco, José Afonso e Fausto
músicos
Júlio Pereira, Janita Salomé, Fausto, José Mário Branco, Sérgio Mestre, Carlos Zíngaro, Pedro Casaes, Pedro Wallenstein, Pedro Caldeira Cabral, Rui Júnior, Pintinhas, Edgar Caramelo, Rui Cardoso, Maria do Amparo, Guida, Cristina, Lena, Formiga, Isabel, Toinas, Francisco Fanhais e elementos do “Cantaril”
instrumentação
Guitarras eléctricas e acústicas, baixo, flauta, saxofones, violino, polymoog, guitarra portuguesa, piano, contrabaixo, viola braguesa e percusões diversas
capa
José Santa-Bárbara
fotografia
Alexandre Carvalho

O último disco em que José Afonso participou activa e integralmente. Passou despercebido a muita gente (que, provavelmente, achou terem sido suficientes as lágrimas vertidas por altura do espectáculo do Coliseu) e, no entanto, é um testemunho espantoso de vitalidade e lucidez criativa. Gravado entre Novembro de 82 e Abril de 83, com arranjos repartidos por Júlio Pereira, José Mário Branco e Fausto (concebidos, em boa parte dos casos, a partir de ideias de Zeca, como, de resto, aconteceu com a grande maioria dassuas composições), constitui um verdadeiro olhar em volta, amadurecido e calmo, só possível por parte de quem viveu a vida com muita intensidade, com muita paixão. Uma autêntica viagem entre a utopia e o desencanto, é o que nos oferece Zeca Afonso neste álbum magnífico, onde é possível descobrir todas as memórias cruzadas dos tempos vividos, os desejos insatisfeitos, os sonhos. Onde pode descobrir-se, por exemplo, um dos mais belos poemas sobre o 25 de Abril («Papuça»), uma reflexão serena e quase existencial sobre o que se fez e o que ficou por fazer («Canção da Paciência»), uma certa angústia que não renega, antes reforça, tudo aquilo por que se passou («Eu Dizia»). E, também, a crítica acutilante («O País Vai de Carrinho»), o prazer dos sons e das novas experiências («O Canarinho»), a esperança que não morre («Utopia»). Um disco ao nível dos melhores, capaz de sobreviver aos tempos e às fronteiras.
Viriato Teles
Jornalista
Alinhamento do álbum (Arquivo José Mário Branco). Clique na imagem para aceder a mais documentos.

Só sei dois ou três tons de viola, (1ª, 2ª e marcha a ré) de modo que componho de corm imagino as melodias. (...) Já tenho um gravador que finalmente aprendi a manusear, embora mal. É fácil: tem um botão para andar para trás, outro para andar para a frente e outro para ligar...

José Afonso
"O Canarinho é um caso curioso" - comenta José Mário Branco quando lhe pedi para contar a sua participação neste tema. «Para mim», prosseguiu, «é paradigmático da noção que eu tenho de que as obras de arte são acontecimentos que podem parecer fortuitos. Nada naquela cantiga indica que possa ter alguma importância. alguma carga extra-musical, de mensagem, e, no entanto, é muitas vezes esse o segredo do Zeca e de qualquer grande músico: tornar-se um estímulo para acontecimentos. Aquilo é música pura. Havia dados seguros e conversados com o Zeca que eram a pulsação rítmica de base dada pelas percussões e o coro das mulheres que lhe propus, tendo em conta uma imagem que me ficou da minha primeira ida ao Alentejo aos 17 anos. A imagem era: eu vou por um caminho, vejo a planície pelo lado das colinas e ouço algures vindo detrás dessas colinas mulheres que andam a trabalhar cantando. Isto era a base. No entanto, faltava qualquer coisa que integrasse a componente africana, o carácter exótico não europeu contido na melodia. Estive até à última sem conseguir resolver este problema. Passei noites sem dormir, e no último dia da gravação, quando me levantei de manhã, meti num saco plástico todas as flautas de madeira que encontrei e fui para o estúdio sozinho. Fiz as flautas em sistema de multipista, acumulando-as. Depois foi praticamente acrescentar a outra voz que aparece – a do Janita – que é o contraponto individual à voz das mulheres, como se o rancho das mondadeiras cruzasse o pastor solitário."
José António Salvador, in «Livra-te do medo – estórias e andanças do Zeca Afonso»
Jornalista