Entrevista a Zélia Afonso
Onde estava no 25 de Abril?
Em Setúbal. O telefone toca a uma hora inabitual, sete da manhã, e dizem-me: “Liga a rádio!” Ouvi. Mais música do que o habitual, apenas sinais vagos…
O pide, tal como fizera nos últimos três dias, continuava a “guardar” a porta. E os filhos foram para a escola.
Qual foi a sua reação?
De expectativa, que rapidamente se transformou em alívio. Era preciso saber qual o “sinal” daquele golpe e aguardar a clarificação da situação.
Quando, à hora de almoço, o pide abandonou o posto de vigia, tivemos a certeza de que lado estavam os tanques e foi a hora de ir para Lisboa, para o que desse e viesse!
Que episódio a marcou mais?
O povo saiu à rua, num dia assim… Ver a saída dos presos políticos de Caxias e abraçá-los. Este acontecimento foi a confirmação de que a liberdade fazia parte de Abril.
Qual é a figura que na sua opinião marcou o 25 de Abril?
Mesmo sendo o 25 de Abril uma ação coletiva, destaco Otelo Saraiva de Carvalho e Salgueiro Maia.
O que mudou na sua vida pessoal?
Muito. A permanente vigilância da PIDE acabara. E todos queríamos uma “cidade sem muros, nem ameias/gente igual por dentro, gente igual por fora”.