Por trás daquela janela
Esta canção foi dedicada ao comunista Alftedo Matos quando este se encontrava preso pela PIDE. Ele foi torturado com o método da “estátua” (ver JA!), sem poder dormir durante dias seguidos. Muitos detidos morreram na prisão ou, quando saíram, nunca mais conseguiram reintegrar-se na sociedade. Destaca-se nesta canção o isolamento do preso, o muro que existe entre o silêncio cá fora e os gritos lá dentro. Também José Afonso foi preso pela PIDE e esteve na prisão de Caxias, onde escreveu as canções que figuram no disco “Venham mais cinco”. Porque viveu sempre a realidade do regime ditatorial (contrariamente aos cantores que se exilaram, como Sérgio Godinho e José Mário Branco), José Afonso escreveu mais textos sobre a sorte dos membros da oposição (comunista) Além disso, como ele próprio foi vítima da perseguição, descreve-a de modo mais pormenorizado. É este o caso em “Por trás daquela janela”. As suas próprias experiências fazem com que ele possa catar a situação de Alfredo Matos com tanta compreensão e familiaridade. Acentua-se assim a força quase invencível da convicção que o ajudou a resistir à perseguição e que deve servir para encorajar os companheiros: o sofrimento (“Mais dura a pedra moleira/ E a fé tua companheira”; “E o seu perfil anuncia/Naquela parede fria”) tem sentido, tempos virão em que se poderá cantar e viver livremente.
in “A canção de intervenção portuguesa – Contribuição para um estudo e tradução de textos” de Oona Soenario, 1994-1995, Universidade de Antuérpia