Voto de pesar por Amândio da Conceição Silva
A Associação José Afonso vem expressar o seu voto de pesar pelo falecimento de Amândio da Conceição Silva, homem bom, combatente pelos valores da liberdade, endereçando a Maria Ivone, sua companheira por mais de 60 anos e aos filhos Moema e João Afonso, a sua solidariedade.
Amândio Silva foi uma pessoa marcante na história da luta pela liberdade em Portugal. Com 20 anos, em 1959, envolveu-se na chamada Revolta da Sé, tendo sido preso e julgado, juntamente com outros companheiros como Jaime Conde, Fernando Oneto e Jaime Serra. Em Janeiro de 1961 pediu asilo político na Embaixada do Brasil e, naquele país, juntou-se a um grupo chefiado por Henrique Galvão. Em Novembro desse ano participou na operação Vagô, que teve por objectivo o sequestro do avião da TAP, o que lhes permitiu o lançamento sobre Lisboa e Algarve de panfletos falando contra a ditadura de Salazar, novamente na companhia de Manuel Serra e outros combatentes como Palma Inácio, Camilo Mortágua, Fernando Vasconcelos e Helena Vidal.
Depois desta acção aderiu à FAPLE, Frente Antitotalitária dos Portugueses Livres Exilados, participando de actos pontuais contra o regime de Salazar.
Após o 25 de Abril, regressou a Portugal e filiou-se no Partido Socialista, onde dirigiu a Federação Urbana da Área de Lisboa, e foi membro da sua Comissão Nacional até assumir funções diplomáticas, como Conselheiro Social da Embaixada de Portugal no Brasil.
A partir de 1992 envolveu-se activamente em actividades de âmbito cultural e de aproximação dos dois países, promovendo vários e importantes intercâmbios neste sector. Ainda nesta qualidade colaborou entusiasticamente na constituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), idealizada por José Aparecido de Oliveira, Ministro da Cultura de José Sarney e foi é um dos principais agentes na constituição da Fundação Luso-Brasileira para o Desenvolvimento do Mundo de Língua Portuguesa. Conseguiu um projecto pro bono de Óscar Niemeyer para a sede da FLB, na Quinta dos Alfinetes, em Lisboa, mas que nunca se chegou a concretizar por falta de verbas para a sua construção.
Em 2007 idealizou uma Associação voltada para o fortalecimento dos laços entre Brasil e Portugal-tema que muito prezava-, cujos fundadores foram figuras públicas do panorama português e brasileiro, nomeadamente artistas, activistas, políticos, pessoas da cultura como José Carlos Vasconcelos, Alípio de Freitas, Carlos do Carmo, Dário Castro Alves, entre outros.
Como presidente da Associação Mares Navegados (AMN) e no âmbito da CPLP participou nos IIº e IIIº Congresso do Festlatino (2008-2009), no Recife, e no Congresso Internacional realizado na Universidade de Aveiro. Em termos da CPLP, participou em reuniões dos Observadores Consultivos- dos quais a AMN fazia parte- com o Secretário Consultivo, até à demissão dessa qualidade de observador, em protesto aquando da adesão da Guiné Equatorial. Também pela AMN participou na dinamização do Festival de Cinema Ambiental, CineEco, que se realiza em Seia, com a atribuição de um prémio pelo melhor filme.
Coordenou a obra “Presença de Agostinho da Silva no Brasil”, juntamente com Pedro Agostinho, filho de Agostinho e professor da Universidade Federal da Bahia e, ao longo da vida, escreveu para vários jornais e revistas portugueses e brasileiras.
Nos últimos anos, foi o principal dinamizador pela organização dos dois fóruns realizados em Lisboa, em 2018 e 2019, no Liceu Camões, sob a temática Liberdade e Pensamento Crítico, bem como da organização da Revista com o mesmo nome. Poucos dias antes de morrer deu a sua contribuição por escrito, através da sugestão de tarefas e eventos para a organização do 3-º Fórum, a ser realizado em 2021.
Partiu um lutador que sempre enfrentou as ditaduras, as ameaças à liberdade e todas as adversidades da vida com grande intensidade, enorme convicção e permanente firmeza. Nunca desistiu de uma batalha. Até agora. Desta vez o adversário foi invencível.
Descansa em paz, amigo.