A AJA faz hoje 33 anos
A AJA faz hoje 33 anos. Foi fundada por pessoas que não queriam que a memória de José Afonso, tanto como artista como ser humano, se esfumasse, na força das ideologias e na indiferença dos dias. Ao longo destes 33 anos houve altos e baixos na Associação mas nunca esmoreceu essa vontade de criar desassossego, como defendia José Afonso.
Esta data que hoje celebramos em confinamento, tem sido recordada com várias actividades realizadas pelos diferentes Núcleos e, nos últimos anos, com um Concerto que de alguma forma recorde o homem e o artista, cujo legado nos continua a emocionar e a transmitir mensagens de necessidade de alerta permanente na defesa da dignidade dos seres humanos.
Este ano, o tempo passou da mesma forma, mas decorreu de forma muito diferente. O que tínhamos planeado para este dia evaporou-se com a entrada de um vírus no nosso quotidiano que impôs a adopção de normas, comportamentos e ritos em que o afastamento de uns e outros é prioritário. Como festejar algo sem que as mãos se dêem, os corpos se abracem, as bocas se mostrem num sorriso pelo encontro?
Hoje somos dominados por um vírus com direito de antena diária, com contagem dos seus mortos, dos infectados, que de forma velada instaura o pânico, o medo ou então o seu aposto-o negacionismo- que é a forma mais perigosa de lidar com a situação. Que a estratégia do choque não seja a de aproveitar esta pandemia tão perigosa para instalar o medo, antes faça compreender que estamos num momento de encontro histórico da humanidade, faça perceber que há outras formas de ver o mundo, de viver a vida sem depredação, de modo humano, com amor, com consciência da vida breve. Sim, estamos em risco permanente. Viver é arriscado. Mas temos que saber aceitar o risco e saber geri-lo ao ponto de não ficarmos travados pelo medo. Esse medo que traz à superfície a parte pior de cada ser. O medo é um campo fértil para a xenofobia, os falsos moralismos, o julgamento do comportamento dos outros. Esta ameaça planetária, obscura, criou de tal modo uma emoção global que estaremos muito abertos para que limitem as nossas liberdades em prol da segurança. Só que a dicotomia entre liberdade e segurança não existe. É uma falácia. Só com as armas da liberdade se pode dar respostas concretas à falta de segurança, não só a nível sanitário mas em todas as outras dimensões da vida.
Achamos que estamos num momento histórico da humanidade. Será que o saberemos aproveitar? Faz-nos falta o conselho de Zeca e outros que, como ele, viam mais longe porque sempre voaram mais alto.
Viva, Zeca Afonso! Viva a AJA!